O diabetes é uma doença crônica e subdiagnosticada, sendo que cerca de 50% dos pacientes não sabem que a possuem. No Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, 14 milhões de brasileiros já convivem com a doença.
A insulina e os remédios são fundamentais para o controle do diabetes. O diabético precisa ter cuidados específicos e rigorosos com a sua saúde, além de uma alimentação saudável e prática de atividade física, que devem fazer parte do seu dia a dia.
As endocrinologistas do Clude, Dra. Vivian Simões e Dra. Janaina Petenuci, e o líder técnico de T.I, Adelson Santos, explicam como é a rotina de um diabético, o tratamento e as principais dúvidas que surgem sobre a doença.
Descoberta da doença
Adelson – Eu sei que é esquisito compartilhar essa parte da doença, mas é interessante que as pessoas saibam como tratar e pesquisarem. Se de repente tem a doença para poder procurar um médico, fazer o tratamento e ficar com a vida bem mais saudável. […] Foi até meio estranho o jeito que eu descobri a doença, para falar a verdade. A família já tem, meus pais, meus tios e dois dos meus tios já faleceram. Foi até em uma época comemorativa e eu estava na casa dos meus pais e minha mãe tinha medido a glicemia do meu pai para ele tomar os devidos remédios e ela chegou em mim e disse: “vamos medir”. Concordei e tomamos um susto, pois estava 200. Ela falou: “poxa, você tem que correr atrás disso porque eu acho que você tem diabete”. Eu tenho diabetes tipo 2, sou meio gordinho, então por conta disso foi propício ter essa doença, infelizmente. O mais engraçado é que depois de um tempo que ela mediu e que eu fui descobrir, começou a fazer sentido algumas coisas que eu sentia no passado. […] Antes de eu saber disso, eu tinha coceiras no corpo e eu não sabia que isso era em função da doença. Por muito tempo eu convivi com essa coceira e não sabia que estava relacionada com o diabetes. Cheguei até a ir no dermatologista mas não tinha nada também. […] Até a mão grudando, que às vezes acontecia, eu toco instrumento, e às vezes quando ia tocar dava aquela sensação esquisita de estar grudando na madeira. […]
Dra. Janaina – Esses sintomas, às vezes, não são muito específicos, porque podem ter outras causas. Muitos pacientes não têm sintomas e a grande maioria são oligossintomáticos, com poucos sintomas. E esses sintomas podem ser outras coisas também relacionadas que não necessariamente com o diabetes.
Adelson – Mas depois que eu comecei a fazer um tratamento e tomar os remédios, realmente ficou bem mais controlado e agora pelo menos eu não sinto mais esse tipo de coceira nem esse grude na mão, eles diminuíram bastante.
Mariana – Adelson, nessas questões da descoberta da doença, quantos anos mais ou menos você tinha? E hoje como é o seu dia a dia? Você tem alguma restrição de algum alimento ou pratica exercício físico?
Adelson – Relacionado à comida, dá para comer tudo. Mas, óbvio que não posso exagerar. Eu tenho que manter uma dieta, por exemplo, ao invés de comer arroz, eu troco por uma batata que possui menos açúcar, além de comer mais salada. Tenho que ir para esse lado de tentar ser um pouco mais fitness para justamente poder controlar mais a glicemia. Não que eu não possa comer, como a própria doutora disse, e ela pode me corrigir se eu estiver errado, mas só não exagerar.
Dra. Janaina – Isso, você tem que ter uma dieta balanceada e sempre procurar comer os alimentos mais integrais para diminuir o índice glicêmico. Não exagerar nas frutas, evitar alimentos açucarados como refrigerantes, sucos e isso é muito importante. Dentro de uma dieta balanceada e equilibrada que todas as pessoas na verdade deveriam ter, não só os diabéticos. Então é uma coisa geral, mas o diabético hoje em dia pode comer de tudo mais o que tem na dieta dele.
Mariana – Doutora, apenas uma curiosidade: o Adelson, no caso, tem a diabetes tipo 2. Em algum momento ela pode se transformar para um tipo 1, e quem tem tipo 1 pode partir pro tipo 2 ou não?
Dra. Vivian – Isso é uma dúvida muito comum dos pacientes no consultório. Eles sempre acham que só quem toma insulina é o paciente de diabetes do tipo 1. E a partir do momento em que o paciente com o diagnóstico prévio do tipo 2 passa a tomar insulina ele acha que virou tipo 1, mas a fisiopatologia da diabetes do tipo 1 e tipo 2 é bem diferente. Então o diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, é uma doença mediada por anticorpos que destroem o pâncreas, então o paciente desde o início do diagnóstico ele já vai precisar de insulina por conta dessa destruição mediada por anticorpos, e geralmente o paciente com diabetes tipo 1 ele tem um diagnóstico da doença na infância ou na adolescência. O paciente com diabetes do tipo 2, a fisiopatologia da doença está muito atrelada à resistência à insulina, à obesidade e ao sedentarismo. Então muitas vezes esses pacientes têm o diagnóstico por volta dos 30, 40 anos. Hoje em dia temos o diagnóstico um pouco mais precoce em função da maior prevalência dos fatores de risco, como a obesidade e o sedentarismo e de maneira geral esses pacientes respondem aos hipoglicemiantes e aos medicamentos gerais. Com o passar do tempo e principalmente se o paciente não aderir às mudanças, não perder peso, por volta de 10 anos de doença, esse paciente pode evoluir para uma insulinopenia, com a necessidade de insulina. É por isso que o paciente tem a impressão que o tipo 2 está virando o tipo 1, mas na verdade, é uma progressão da doença, e geralmente isso acontece de forma mais precoce pela falta da adesão ao tratamento e acompanhamento médico.
Tratamento
Mariana – Adelson, a questão do seu tratamento, como é que você faz? Você passa com médico de quanto em quanto tempo? Tem que tomar os remédios de forma diária?
Adelson – Sim, eu tomo meus remédios de forma diária, tanto que a doutora me receitou o uso dos medicamentos tanto no período da manhã, antes do café da manhã e à tarde também. Então eu tomo os medicamentos de manhã e à tarde, no caso com a prescrição que ela me passou. E é todos os dias sem falta para poder conseguir controlar.
Mariana – E você mede também todos os dias?
Adelson – Sim, eu meço assim quando eu consigo. Eu meço pelo menos todos os dias. Varia o tempo, a hora do dia que eu meço, mas sim, eu meço todos os dias para poder saber como é que tá a glicemia. Dependendo de como ela esteja eu sei que eu tenho que comer um pouco menos e tomar o remédio no tempo certo, justamente para eu conseguir fazer o controle no meu dia.
Dra. Janaina – Se o paciente estiver fora do controle, ele precisa ter uma consulta com uma regularidade muito maior, mas se o paciente normalmente está bem controlado, ele não precisa ter aquelas consultas e podem ser um pouco mais espaçadas, mas isso depende muito do controle do paciente. Ou aquele paciente também que tem uma adesão ruim, que você precisa vê-lo com uma frequência muito maior para orientação. Eu acho que o mais importante é a educação em diabetes, porque é uma doença complexa e às vezes muitas pessoas têm dificuldades em saber como lidar e o que tem que fazer. É uma doença que você precisa educar o paciente e orientar para que ele saiba como conduzir diante de uma alteração glicêmica ou uma hipoglicemia também, que é uma coisa muito comum e que muitos deles não sabem lidar.
Sintomas
Mariana – O Adelson comentou da questão dos sintomas, então até a Janaina complementou dizendo que às vezes os sintomas não servem para todos e, às vezes, as pessoas têm um outro tipo de sintoma que é totalmente diferente do que ele comentou, na verdade no caso do Adelson, ele é mais comum ou não?
Dra. Vivian – Esses sintomas relatados não são os mais comuns, na verdade, a maioria dos pacientes, como a doutora Janaína já comentou, são assintomáticos. No Brasil existem cerca de 13 milhões de diabéticos e só 50% têm o diagnóstico, então metade desses estão andando por aí e não sabem porque a grande maioria é assintomática. Quando o paciente entra numa fase de “tranca de compensação” ele vai ter sintomas que chamados de “pólis”, que é perda de peso. Às vezes os pacientes perdem 5, 10 kg por poliúria, que é urinar com frequência ou por polidipsia, que é uma sede intensa. Muitas vezes, os pacientes começam a tomar sucos, água de coco para aliviar essa sede, piorando ainda mais o controle glicêmico, e alguns também possuem aumento da fome. Esses sintomas de pólis são os mais comuns, mas às vezes eles podem ter sintomas só de fraqueza e mal-estar, então é muito comum. Eu já tive casos de pacientes que já chegaram a ir em vários hospitais e muitas vezes foram liberados porque eles não contavam esses sintomas de pólis, eles só falavam de fraqueza e aí não foi feita a aferição do destro. Acho que por isso que hoje em dia o destro passa a ser um sinal vital, a medida da ponta do dedo, a medida da temperatura, porque é importante para rastrearmos justamente esses pacientes, porque os sintomas, muitas vezes, podem se confundir com os sintomas de uma infecção, por exemplo. Se o paciente não cita os sintomas da pólis e fala que só está com um mal-estar e fraqueza, você pode pensar que é um efeito temporário ou alguma outra doença, então é importante o rastreio nesse momento.
Dra. Janaina – Igual o Adelson afirmou, que ele acabou identificando a sua situação justamente com uma pontinha do dedo e porque também tem um histórico familiar, então ele mesmo disse que é um fator de risco muito importante.
Adelson – Geralmente é assim que a maioria descobre, pois tem alguém na família, vai lá e acaba fazendo o destro. Gostaria de perguntar: se eu tomar muita insulina, ela pode afetar de alguma forma a fabricação natural de insulina?
Dra. Janaina – No início, quando o paciente tem o que chamamos de “primo descompensação”, o paciente acabou de ser diagnosticado, ele algo chamado de “glicotoxicidade”, o que acontece: devido à glicose, o açúcar estar muito alto, às vezes, por mais que você dê medicamento, ele não vai ser tão efetivo para baixar a glicose, e você às vezes precisa dar um pouco de insulina para o paciente conseguir ter a atuação dos medicamentos, e neste caso, o paciente faz o uso de insulina por um tempo e depois ele pode realmente parar de utilizar nessa parte inicial do tratamento. Quando o paciente já tem muito tempo de diabetes, provavelmente ele está tendo uma falência na produção de insulina, ele já não tem às vezes insulina, e ele precisa utilizar insulina para ter um bom controle do diabetes.
Tratamento e cuidados
Mariana – A diabetes tem cura? E ela pode ser evitada?
Dra. Vivian – A diabetes não tem cura. Isso é uma coisa que eu friso muito para o paciente no consultório, porque principalmente agora na pandemia, vimos um grande número de pacientes suspendendo as medicações porque não conseguia voltar às consultas. Eu falo que a diabetes é uma doença crônica, que hoje, com a evolução do tratamento medicamentoso, o paciente consegue ter uma excelente qualidade de vida, com uma redução bem importante das complicações, mas é preciso manter o tratamento medicamentoso e o acompanhamento regular para ver sua evolução. A diabetes pode ser evitada com uma dieta saudável e atividade física, mas é importante ressaltarmos que como a doutora Janaina disse, o fator genético é muito forte. Eu sempre brinco no consultório falando que “você que tem mãe ou pai diabético, existe uma corda te puxando para o lado do diabetes, e você tem que fazer exercício, ter alimentação saudável para tentar fugir ao máximo desse destino”. Mas, com o passar dos anos é muito provável que você se torne diabético por conta desse fator genético, mas, provavelmente, se você tiver hábitos saudáveis, você vai ter um diabetes leve e que vai ser de fácil condução com poucas complicações. Por isso, a alimentação saudável e a atividade física são as melhores estratégias para tentarmos minimizar ao máximo essa evolução para um diabetes mais grave também.
Mariana – E tem, por exemplo, alguns alimentos que causam a diabetes ou não?
Dra. Vivian – Essa é uma pergunta de todos os pacientes no consultório, e eles sempre são fissurados à ideia de que só doce vai levar ao diabetes, e nós não temos ainda estudos que comprovem isso. O que a gente tem observado nos estudos é que os alimentos açucarados ultraprocessados, como os sucos industrializados e o refrigerante, são alimentos que vão estar associados a um maior ganho de peso, então assim, a alimentação saudável, equilibrada, rica em fibras, com alimentos integrais, menos carne vermelha e mais carnes brancas, tudo isso é importante para você prevenir essa evolução. A fruta é muito importante, porque o paciente acha que a fruta não aumenta o diabetes, é só o brigadeiro, mas se você chupar seis laranjas, você vai contribuir para aumentar essa glicemia. Então a alimentação equilibrada, saudável e com uma quantidade adequada é o mais importante.
Mariana – Até quando o Adelson perguntou da questão da insulina, a questão da diabetes tipo 1 ou 2, as duas significam que tem que fazer aplicação de insulina para o resto da vida ou conseguimos, por exemplo, no caso do Adelson, tratar de uma outra forma, com reeducação alimentar, exercícios físicos e medicamentos?
Dra. Janaina – Então, o tipo 1 ele, o paciente tem falência por autoimunidade, ele tem anticorpos que atacam, evoluindo normalmente para falência pancreática e ele não produz insulina. Então ele precisa utilizar insulina para o resto da vida, diferente do diabetes tipo 2, porque normalmente o tipo 2 tem uma resistência, e ele tem uma dificuldade na ação da insulina. Ele é capaz de produzir a insulina mas não consegue trabalhar o suficiente, portanto, às vezes ele tem medicamentos que favorecem essa resistência insulínica, que ajudam a melhorar essa resistência insulínica. E aí, inicialmente, ele usando o medicamento certo, fazendo a dieta e fazendo exercício, isso irá melhor e ele não precisa de usar a insulina, porém, aquele paciente que às vezes que não teve um bom controle inicialmente, nunca controlou ou aquele paciente que tem muitos anos de diabetes, pode ser que futuramente o diabético tipo 2 precise de insulina para ter um bom controle.
Insulina
Adelson – Qual é a ação realmente da insulina no meu corpo? Porque eu já ouvi casos de outras pessoas falando que se você toma muita insulina, você não vai fabricar mais.
Dra. Janaina – Normalmente, Adelson, quando a pessoa já está usando insulina, provavelmente a grande maioria desses pacientes, é porque ele já não produz o suficiente para controlar bem o diabetes. Por isso que você tem que associar a insulina para ter um melhor controle.
Dra. Vivian – Hoje em dia, com os novos tratamentos, temos muitos medicamentos que preservam a célula beta e retarda muito o início da insulina. Então podemos hoje em dia associar várias medicações que tem esse poder e deixamos a insulina realmente para iniciar mais tardiamente, porque de fato é muito benéfico em relação ao cardiovascular, benefício renal e não somente em preservar a célula beta, mas naqueles pacientes que tem muito tempo de doença em que você já tentou todos os medicamentos e o paciente não controlou, sendo assim, ele de fato passa a ser o melhor tratamento nestes casos, e quando o paciente já está com muito tempo de doença, em falência pancreática.
Questões mais frequentes sobre o diabetes
Mariana – A diabetes não é uma doença séria?
Dra. Janaina – A diabetes na verdade é uma doença séria, porque ela causa complicações que são e que levam ao comprometimento da qualidade de vida do paciente, ao mesmo tempo a perda de autonomia, porque pode causar amputações e cegueira. Hoje o diabetes é uma das principais causas de diálise no Brasil, então assim, é uma doença que tem que ser encarada com seriedade sim.
Mariana – O estresse pode agravar o diabetes?
Dra. Vivian – É a pergunta que mais escutamos no consultório. Os pacientes sempre falam: “doutora, o meu diabetes é emocional”, então quando eu estou estressada ele piora, quando estou tranquila ele melhora. Sabemos que o estresse cirúrgico, de uma cirurgia de grande porte ou um estresse pós-trauma, de fato, leva a uma hiperglicemia importante. O estresse emocional eu vejo muito ligado ao fato do paciente comer mais alimentos hiperglicêmicos, então muitas vezes por estresse e por ansiedade, ele acaba ingerindo alimentos com maior índice de carboidratos mesmo e piorando esse controle glicêmico.
Mariana – O diabetes acomete tanto mulheres como homens e de todas as idades?
Dra. Janaina – Na verdade depende do tipo de diabetes, porque temos vários tipos de diabetes. O diabetes tipo 2 normalmente acomete igualmente homens e mulheres, e normalmente, são de meia idade, mas depende. Se for diabetes tipo 1 é um indivíduo mais jovem, que tem outro perfil diferente do perfil do diabético tipo 2, que é o paciente que geralmente possui sobrepeso, têm obesidade, histórico familiar, então a prevalência depende muito do tipo de diabetes. Temos outro tipos de diabetes chamados “lada” e “mody”, que são mais raros mas também. Então a prevalência da diabetes depende do tipo.
Mariana – Pessoas com diabetes estão mais propensas a ter gripes e outras doenças?
Dra. Vivian – Pensando nesse momento que estamos vivendo atualmente, a pandemia do Covid, os pacientes com diabetes, principalmente os pacientes com diabetes descompensada, tem maior risco de evoluir com as complicações pelo COVID 19, é por isso que sempre recomendamos os pacientes diabéticos a se vacinarem, por exemplo, a vacina da gripe e da influenza. Nós recomendamos a vacina pneumocócica para eles, e certamente os pacientes diabéticos, assim que a vacina do Coronavírus, vão ser considerados de risco, como os idosos e outras comorbidades, e que devem ser os primeiros a serem vacinados.
Mariana – Frutas são comidas saudáveis. O diabético pode comer a quantidade que ele quiser?
Dra. Janaina – Não pode. Na verdade, não só os diabéticos, porque assim, foi o que a doutora Vivian já tinha comentado, que o excesso de frutas vai poder piorar o controle glicêmico em que você também vai ter o aumento da caloria, e isso pode levar a um ganho de peso, então tudo tem que ser uma dieta balanceada.
Dra. Vivian – Em média 3 ou 4 frutas ao dia, porque às vezes, falamos não para exceder o número de frutas e eles tiram da alimentação, e isso é ruim, porque a fruta é muita rica em fibra, então ela é muito importante. Existem algumas frutas que têm mais açúcar, então a laranja, a uva e a manga, são frutas que tem um teor de carboidrato maior, então não dá para sentar depois do almoço e chupar três laranjas, por exemplo, e com certeza vai levar a uma piora do controle glicêmico naquele dia. Então esses detalhes e explicar isso para o paciente na consulta é muito importante porque são ajustes simples na alimentação que podem refletir em uma melhora bem importante no diabetes.
Mariana – Se a pessoa está acima do peso ou obesa, um dia ela vai desenvolver a diabetes?
Dra. Vivian – Existem muitos pacientes que são obesos, que pesam 100 kg, e que não têm diabetes, e eles até costumam falar em consulta: “doutora, eu sou um gordinho saudável, meus exames são ótimos”. Muitas vezes isso está atrelado a ser um paciente que não tem uma história familiar importante no diabetes, mas isso não quer dizer que ele nunca vai desenvolver. Eu acho que o tempo que o paciente está obeso é muito importante, pois quanto mais tempo ele está acima do peso, isso certamente a longo prazo, pode agregar um risco maior a desenvolver diabetes. Mas a gente tem que lembrar que pacientes magros também podem desenvolver diabetes e isso acontece principalmente em pacientes que têm uma história familiar bem importante. Então eu tenho pacientes que correm 20 quilômetros, que tem IMC normal e que já tem um pré-diabético em que a mãe e o pai são diabéticos, então a história familiar é importante também.
Mariana – Coisas “diet” realmente resolvem?
Dra. Vivian – Hoje é recomendado que tenha uma dieta saudável, sabe? Em relação, por exemplo, ter um baixo consumo de gorduras, principalmente gorduras trans, gorduras saturadas, ingerir alimentos ricos em fibras, preferir sempre comer frutas, verduras, sempre alimentos não tão industrializados, ultraprocessados, ter uma dieta balanceada assim como uma pessoa que não tem diabetes, e ao mesmo tempo evitar essas frutas que tem um índice glicêmico mais elevado como a laranja, a uva, que normalmente vemos muitos pacientes que vem no consultório falando: “doutora, eu tomo suco de uva integral”. Porém, aquele suco de uva integral, aquele suco de laranja, ele tem um índice glicêmico muito alto, então acaba descompensado muito, porque você toma bastante, às vezes, e isso acaba descompensado, levando ao ganho de peso. Então tem que ser tudo com moderação, e eu acho que ter uma refeição saudável, que é o que tem que ser focado.
Mariana – A aplicação da insulina causa algum tipo de dependência química?
Dra. Vivian – Não causa. Os pacientes têm muito medo de usar insulina, e eles tem essa ideia de que quando começar a usar insulina, a pessoa vai usar para sempre. Quando fazemos o diagnóstico no paciente internado e ele começa a usar a insulina, a primeira pergunta que ele faz quando entramos no quarto é: “doutora, eu vou tomar a insulina em casa?”, e justamente porque ele acha que vai ficar viciado se ele usar mais de uma vez. Como a doutora Janaína falou, na primo-descompensação do diabetes, quando o paciente tem esse diagnóstico, descompensa de forma ou interna, pela infecção pelo COVID, por exemplo, descompensa de forma importante a doença, a insulina passa a ser o tratamento de eleição, um tratamento bastante eficaz. Depois que o paciente compensa mais, podemos sim trocar essa insulina pelos comprimidos e o paciente fica muito tempo sem precisar da insulina, e essa evolução depende muito de como o paciente aderir ao tratamento, depende da frequência de como ele usa as medicações, tudo direitinho.
Dra. Janaina – Hoje em dia quando o paciente tem aderido melhor ao tratamento, nós disponibilizamos as medicações, de como a doutora Vivian falou, que são muito boas para a diabetes, que até preservam as células betas. Então tem pacientes que vivem longos anos com diabetes e não necessitam de insulina para o controle, diferente de antigamente que a disponibilizávamos poucos medicamentos para o diabetes tipo 2. Então hoje em dia, se o paciente tiver um bom controle desde o início, que é muito importante porque isso chama-se memória metabólica, aquele paciente que tem um bom controle, faz dieta, faz atividade física, ele evolui com menos complicações futuras como problemas na retina, problemas no rim, problemas cardiovasculares, então isso já tem estudos que mostram em relação a essa memória metabólica.
*Atenção: As informações existentes no Blog do Clude pretende apoiar e informar, não substituindo a consulta médica. Procure sempre uma avaliação pessoal.